"No caso analisado, o paciente foi
condenado à pena de 14 anos de reclusão, como incurso no art. 121, § 2º, I e
IV, do CP. Sustenta-se a nulidade do processo por ausência de defesa técnica
efetiva, pois o patrono do paciente, na sessão plenária do júri, teria
utilizado apenas quatro minutos para proferir sua sustentação oral.
Invocou a aplicação da Súm. n. 523/STF, asseverando que, após a
sustentação proferida, deveria ter a magistrada declarado o réu indefeso,
dissolvendo o conselho de sentença e preservando, assim, o princípio do devido
processo legal. O Min. Relator observou que a matéria objeto da impetração não
foi suscitada e debatida previamente pelo tribunal a quo,
razão pela qual o habeas corpus não deve ser conhecido, sob
pena de supressão de instância.
Contudo, entendeu a existência de ilegalidade flagrante, visto que
emerge dos autos que a atuação do defensor do paciente, na sessão de julgamento
do tribunal do júri, não caracterizou a insuficiência de defesa, mas
a sua ausência. Como se verificou, o defensor dativo utilizou apenas quatro
minutos para fazer toda a defesa do paciente.
É certo que a lei processual penal não estipula um tempo mínimo que deve
ser utilizado pela defesa quando do julgamento do júri. Contudo, não se
consegue ver razoabilidade no prazo utilizado no caso concreto, por mais
sintética que tenha sido a linha de raciocínio utilizado. O art. 5º, XXXVIII,
da CF assegura a plenitude de defesa nos julgamentos realizados
pelo tribunal do júri. Na mesma linha, o art. 497, V, do CPP estatui
ser atribuição do juiz presidente do tribunal do júri nomear defensor
ao acusado, quando considerá-lo indefeso, podendo, neste caso dissolver o
conselho e designar novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a
constituição de novo defensor.
Cabia, portanto, a intervenção do juiz presidente, a fim de garantir o
cumprimento da norma constitucional que garante aos acusados a plenitude de
defesa, impondo-se que esta tenha caráter material, não apenas formal. Diante
dessa e de outras considerações, a Turma concedeu a ordem de ofício, para
anular o processo desde o julgamento pelo tribunal do júri e
determinar outro seja realizado e ainda o direito de responder ao processo em
liberdade, até decisão final transitada em julgado, salvo a superveniência de
fatos novos e concretos que justifiquem a decretação de nova custódia."
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